Imagem ilustrativa da disputa entre Mastercard e Valve

A recente remoção de jogos com conteúdo adulto de plataformas como Steam e Itch.io gerou uma onda de protestos, com todas as suspeitas recaindo sobre a pressão de processadores de pagamento. Em meio à crise, a Mastercard publicou uma nota negando seu envolvimento direto, mas a Valve, dona da Steam, apresentou uma versão bem diferente dos fatos, expondo uma complexa rede de responsabilidades onde o poder de veto parece estar nas mãos de quem controla o dinheiro.

A Negação Oficial e a Cláusula Oculta

Em sua declaração oficial, a Mastercard afirmou que "não avaliou nenhum jogo ou exigiu restrições" nas plataformas. A empresa, no entanto, ressaltou que exige que os comerciantes impeçam o uso de seus cartões para "compras ilegais, incluindo conteúdo adulto ilegal". Essa linguagem, cuidadosamente escolhida, permite à gigante financeira se distanciar da censura direta, colocando o ônus da legalidade e conformidade inteiramente sobre as plataformas e seus parceiros de pagamento. É uma manobra de comunicação que joga a responsabilidade para outros elos da corrente.

Valve Conta Outra História: A Resposta da Steam

A resposta da Valve, conforme reportado pelo PC Gamer e outros veículos, contradiz a narrativa de isenção. Segundo a empresa, embora a Mastercard não tenha se comunicado diretamente, seus parceiros de processamento de pagamento rejeitaram as políticas de conteúdo da Steam. A justificativa? O risco de "danos à marca Mastercard" e a violação de uma regra contra "transações ilegais ou que prejudiquem a marca". Essa cláusula vaga de "dano à marca" funciona como uma ferramenta poderosa e subjetiva para ditar o que é ou não aceitável, transformando uma diretriz de negócios em um instrumento de moderação de conteúdo.

Análise: Quem Realmente Modera o Conteúdo Online?

Este confronto, baseado em informações originalmente apuradas pelo TechCrunch, revela uma camada de moderação que opera nas sombras. Não são as plataformas, mas os intermediários financeiros que, para proteger suas parcerias e evitar "riscos de marca", acabam por definir os limites da expressão criativa. Plataformas como a Itch.io, vitais para desenvolvedores independentes, sentem o impacto de forma ainda mais dura, sendo forçadas a negociar seu catálogo para manter o acesso a sistemas de pagamento essenciais. O que está em jogo não é apenas a venda de jogos adultos, mas a autonomia das plataformas digitais e a liberdade dos criadores. A disputa expõe a fragilidade do ecossistema de distribuição digital, mostrando que o controle financeiro se tornou uma forma de censura indireta, mas extremamente eficaz.

(Fonte original: TechCrunch)