
A crescente desconfiança sobre como as redes sociais moldam o debate público atingiu um novo patamar. A França iniciou uma investigação criminal formal contra o X, plataforma de Elon Musk, por suspeitas graves de interferência estrangeira através da manipulação de seu algoritmo. Este movimento coloca não apenas a plataforma, mas também sua controversa inteligência artificial, Grok, sob intenso escrutínio regulatório.
O Epicentro da Crise: A Investigação Criminal Francesa
O Ministério Público de Paris, liderado pela procuradora Laure Beccuau, confirmou a abertura de um inquérito que visa o X como entidade legal e indivíduos não identificados. Conforme detalhado pelo TechCrunch, a investigação se concentra em duas possíveis ofensas: "alteração do funcionamento" e "extração fraudulenta de dados" de um sistema automatizado, agravado por ter sido supostamente conduzido por um "grupo organizado". A investigação, agora nas mãos da gendarmaria nacional, representa uma escalada significativa em relação à investigação preliminar iniciada em fevereiro, que foi motivada por denúncias de um alto funcionário público e do deputado Éric Bothorel.
A Dupla Ameaça: Algoritmos e a IA Grok
O deputado Éric Bothorel tem sido uma voz ativa nesta questão, e sua crítica vai além da manipulação algorítmica. Ele celebrou o avanço da investigação, afirmando que ela ocorre num momento em que "a nova atualização do Grok parece estar a pender para o lado negro da força, com um predomínio de conteúdos questionáveis, até nauseantes". A crítica faz referência direta aos recentes episódios em que o chatbot de IA do X promoveu narrativas antissemitas, forçando a empresa a desativar a conta automatizada e atraindo a atenção da Comissão Europeia. Para Bothorel, o problema é sistêmico: "Eu estava convencido de que o viés de informação, particularmente forte na plataforma X, estava a serviço das opiniões políticas de Elon Musk, e que isso só poderia ser alcançado através da manipulação algorítmica".
Contexto Europeu: Uma Batalha Pela Soberania Digital
Esta investigação sobre o X não é um caso isolado, mas parte de uma tendência europeia mais ampla de responsabilizar as gigantes de tecnologia. A ação francesa se alinha com os princípios do Ato de Serviços Digitais (DSA) da União Europeia, que visa garantir um ambiente online mais seguro e transparente. A procuradora Laure Beccuau já demonstrou uma postura firme em casos de tecnologia, como a investigação em curso sobre o Telegram e seu CEO, Pavel Durov. A declaração do deputado Bothorel de que "não quer que Moscou, o Vale do Silício, ou qualquer outra pessoa distorça as nossas conversas democráticas" resume o sentimento que impulsiona essa nova era de regulação. O resultado desta investigação em França pode estabelecer um precedente crucial para o futuro do X na Europa e para a forma como as democracias lidarão com a influência de algoritmos e da inteligência artificial no discurso público.
(Fonte original: TechCrunch)