
O que acontece por trás das portas da empresa de IA mais observada do mundo? Longe da imagem de um laboratório impecável e futurista, a OpenAI opera em um estado de "caos organizado", mais parecido com uma startup em crescimento explosivo do que com um gigante corporativo. Essas revelações vêm de Calvin French-Owen, um ex-engenheiro que, em um post de blog fascinante após sua saída, detalhou a cultura interna da criadora do ChatGPT. A análise, originalmente destacada pelo TechCrunch, oferece uma perspectiva crua e necessária sobre a realidade de construir o futuro da tecnologia.
Crescimento Explosivo e o Caos Inevitável
Imagine uma empresa triplicando seu quadro de funcionários, de 1.000 para 3.000 pessoas, em apenas um ano. French-Owen descreve que essa escala vertiginosa quebra tudo: comunicação, hierarquia, processos de contratação e, crucialmente, o desenvolvimento de produtos. A consequência é um ambiente onde a agilidade de uma startup persiste, mas com efeitos colaterais. Múltiplas equipes, por exemplo, acabam desenvolvendo soluções para os mesmos problemas de forma independente. "Devo ter visto meia dúzia de bibliotecas para coisas como gerenciamento de filas ou loops de agentes", exemplificou ele. Essa duplicação de esforços é um sintoma clássico de empresas que crescem mais rápido do que seus processos conseguem acompanhar.
O Espírito de "Lançar Rápido e Quebrar Coisas"
A OpenAI parece ainda não ter percebido seu próprio tamanho. A cultura interna, fortemente influenciada por ex-funcionários da Meta, remete aos primeiros dias do Facebook, com o lema "mover-se rápido e quebrar coisas". French-Owen viveu isso na pele durante o desenvolvimento do Codex, o agente de codificação da OpenAI. Uma equipe de cerca de dezoito pessoas construiu e lançou o produto do zero em apenas sete semanas, um sprint marcado por noites sem dormir. Essa velocidade, no entanto, tem um custo técnico. O repositório central de código, descrito como um "monólito de back-end", tornou-se "uma espécie de depósito de lixo". A combinação de engenheiros com diferentes níveis de experiência — de veteranos do Google a recém-doutores — e a flexibilidade da linguagem Python resulta em um código que frequentemente quebra ou leva tempo excessivo para rodar. Ainda assim, a liderança de engenharia está ciente e trabalhando para corrigir esses problemas.
Um Aquário Secreto Vigiado pelo Twitter
Ser o centro das atenções globais cria um paradoxo cultural. A OpenAI é extremamente secreta para evitar vazamentos, mas, ao mesmo tempo, é hiper-reativa ao que acontece nas redes sociais. Segundo o ex-engenheiro, a empresa monitora de perto o X (antigo Twitter). Se um post sobre a OpenAI viraliza, a equipe interna vê e, muitas vezes, reage a ele. "Um amigo meu brincou: 'esta empresa funciona com base nas vibes do twitter'", escreveu ele. Isso demonstra como a percepção pública pode influenciar diretamente as prioridades de uma das empresas mais importantes do planeta.
A Maior Concepção Errada: Segurança em IA
Talvez a revelação mais importante de French-Owen seja sobre o compromisso da OpenAI com a segurança. Enquanto críticos, incluindo ex-funcionários, acusam a empresa de negligenciar os riscos, a realidade interna é mais matizada. O foco principal não está nos riscos teóricos e apocalípticos, mas em ameaças práticas e imediatas. Equipes dedicadas trabalham para combater "discurso de ódio, abuso, manipulação de vieses políticos, criação de bioarmas, automutilação e injeção de prompt". Isso não significa que os riscos a longo prazo sejam ignorados, mas a batalha diária é travada contra os danos tangíveis que uma tecnologia usada por centenas de milhões de pessoas pode causar hoje. A empresa entende que governos, concorrentes e o público estão observando cada passo. "As apostas parecem muito altas", conclui ele. A visão de French-Owen humaniza a OpenAI. Ela não é uma entidade infalível, mas uma organização dinâmica e imperfeita, navegando em um território desconhecido com uma velocidade estonteante. A construção do futuro, ao que parece, é um processo inerentemente caótico.
(Fonte original: TechCrunch)