Cluely: O Marketing da Polêmica é o Futuro das Startups de IA?

O ecossistema de tecnologia foi recentemente abalado por uma notícia que desafia todas as convenções: a Andreessen Horowitz (a16z), uma das mais respeitadas firmas de capital de risco do Vale do Silício, anunciou um investimento de US$ 15 milhões na Cluely, uma startup que se autodenomina uma ferramenta para “trapacear em tudo”. A decisão gerou uma onda de críticas, não apenas pelo propósito questionável do produto, mas principalmente pela sua estratégia de marketing baseada em “rage-bait” — conteúdo deliberadamente criado para provocar raiva e engajamento.

A Nova Regra do Jogo para Startups de IA: Polêmica Primeiro, Produto Depois?

Contudo, para a a16z, essa capacidade de gerar ruído é precisamente o diferencial. Bryan Kim, sócio da firma, argumenta que a era da IA generativa mudou as regras. Antes, o sucesso duradouro de uma startup dependia da construção de um produto artesanal e superior. Hoje, essa abordagem é um risco fatal. “Se você constrói algo meticulosamente e a OpenAI ou outra gigante lança um novo modelo que inclui sua funcionalidade, você está acabado”, explicou Kim. A velocidade, tanto no desenvolvimento quanto no marketing, tornou-se o ativo mais valioso.

A Tese do “Momentum como Diferencial”

Essa percepção levou Kim a desenvolver uma nova tese de investimento: para startups de IA voltadas para o consumidor, “o momentum é o diferencial competitivo”. Em um mercado saturado pelo ruído da IA, a capacidade de capturar e manter a atenção do público é mais difícil — e mais importante — do que nunca. A Cluely, fundada por Roy Lee, personifica essa teoria. Lee admite abertamente que sua abordagem é calculada para explorar os algoritmos das redes sociais. “Os algoritmos promovem as coisas mais controversas”, afirma. “Estou apenas aplicando os mesmos princípios de controvérsia no X e no LinkedIn.” Ele critica a postura excessivamente intelectualizada de muitos na indústria, que, segundo ele, carece de “senso viral”. O exemplo mais notório foi o vídeo de lançamento da Cluely, onde Lee usa a IA para mentir sobre sua idade e conhecimento em arte durante um encontro. O vídeo viralizou, gerando um debate acalorado. O mais surpreendente? Na época, a Cluely mal tinha um produto funcional. “Estamos gerando mais visualizações do que todas as empresas do último lote da YC [Y Combinator]”, vangloria-se Lee, destacando que a expectativa gerada pelo marketing agressivo criará um lançamento de produto muito mais impactante.

Construindo o Avião em Queda Livre

A aposta da a16z na Cluely é um reflexo de uma mudança de paradigma. A firma acredita que, no cenário atual, uma startup pode — e deve — construir sua base de usuários e sua marca antes mesmo de ter um produto finalizado. A capacidade de converter atenção em clientes pagantes, demonstrada pela Cluely, foi o que convenceu Kim. Essa estratégia não é isenta de riscos. A abordagem “construir o avião enquanto ele cai do penhasco”, como descreve Kim, pode facilmente terminar em desastre. A Cluely precisa entregar um produto que corresponda ao hype monumental que criou. Caso contrário, a mesma atenção que a impulsionou pode se voltar contra ela com a mesma intensidade. A saga da Cluely serve como um estudo de caso fascinante. Ela questiona se o modelo tradicional de desenvolvimento de produto foi suplantado por uma nova era onde a maestria do marketing viral e a criação de momentum são os verdadeiros pré-requisitos para o sucesso. O lançamento oficial do produto está próximo e o mundo da tecnologia estará observando atentamente para ver se este avião vai voar ou se espatifar no chão.

(Fonte original: TechCrunch)