Imagem do eVTOL AIR ONE sobrevoando uma paisagem montanhosa

O sonho de ter um carro voador pessoal, antes restrito à ficção científica, está cada vez mais próximo da realidade, mas não da forma que muitos imaginavam. Enquanto gigantes do setor investem bilhões em complexos serviços de táxi aéreo, uma startup israelense chamada AIR está trilhando um caminho diferente e mais direto ao consumidor. Com um novo aporte de $23 milhões em uma rodada de financiamento Série A, a empresa está pronta para acelerar sua expansão para os Estados Unidos, trazendo consigo uma visão ousada para o futuro da mobilidade pessoal.

A rodada, liderada pela Entrée Capital e com a participação do investidor Dr. Shmuel Harlap (um dos primeiros a apostar na Mobileye), fornecerá o capital necessário para que a AIR escale sua produção em Israel, aumente sua equipe e, crucialmente, estabeleça uma presença sólida no mercado americano. Conforme noticiado originalmente pelo TechCrunch, este movimento é estratégico e oportuno, alinhando-se a um recente decreto executivo dos EUA que incentiva o desenvolvimento doméstico de drones e eVTOLs.

Uma Estratégia de Dupla Utilidade

O que torna a abordagem da AIR particularmente inteligente é sua fundação em uma plataforma de dupla utilização. Desde o início, a empresa projetou suas aeronaves — uma pilotada e outra não tripulada — com a mesma estrutura e sistemas centrais. Esta sinergia permite que os avanços em um modelo sejam diretamente aplicados ao outro, otimizando desenvolvimento, custos e escalabilidade.

O modelo estrela é o AIR ONE, um eVTOL (veículo elétrico de decolagem e pouso vertical) de dois lugares projetado para uso pessoal. Com mais de 2.500 pré-encomendas já garantidas, o apelo de um "carro voador" particular é evidente. Paralelamente, a empresa desenvolveu uma versão não tripulada para transporte de carga, logística em ambientes contestados e aplicações de defesa, com planos de entregar 15 unidades ainda este ano.

Essa abordagem de 'dois em um' não é apenas brilhante do ponto de vista da engenharia, mas uma jogada de mestre em termos de negócios. Ao atender simultaneamente os mercados de consumo e de defesa/logística, a AIR diversifica seu risco e amplia seu mercado potencial de forma massiva.

Navegando pela Burocracia com Inteligência

Talvez a decisão mais estratégica da AIR seja sua rota para a certificação. Em vez de enfrentar o longo e caro processo de Certificação de Tipo exigido para táxis aéreos comerciais, a AIR projetou o AIR ONE para se qualificar para a certificação de Aeronave Esportiva Leve (LSA), sob as novas regras MOSAIC da FAA.

"Projetamos o AIR ONE desde o primeiro dia para se alinhar aos critérios LSA, antecipando um caminho de certificação mais simplificado", afirmou o CEO e cofundador Rani Plaut. A certificação LSA, embora restrinja os voos a áreas menos povoadas e longe de espaço aéreo controlado, permite um acesso ao mercado muito mais rápido. A meta da AIR é iniciar as entregas aos clientes particulares assim que a regra se tornar aplicável, em 2026, potencialmente se tornando o primeiro eVTOL pilotado a chegar ao consumidor final.

Enquanto isso, sua aeronave de carga opera sob Certificados de Aeronavegabilidade Experimental (EAC), permitindo missões de logística e uso duplo enquanto a empresa trabalha em paralelo na Certificação de Tipo completa.

Desafios e Diferenciais no Competitivo Mercado Americano

A entrada no mercado dos EUA não será isenta de desafios. A AIR enfrentará a concorrência de players estabelecidos como Joby Aviation e Archer Aviation, que já possuem parcerias com companhias aéreas e contratos militares para testar suas aeronaves. Além disso, a AIR ainda não possui uma fábrica em solo americano, um fator muitas vezes decisivo para garantir contratos governamentais.

No entanto, a empresa acredita que seus diferenciais lhe conferem uma vantagem única. "O que diferencia a AIR é o DNA de design compartilhado entre ambas as variantes da aeronave", explica Plaut. Mas a verdadeira inovação pode estar na praticidade. O tamanho compacto e o mecanismo de asas dobráveis do AIR ONE resolvem um dos maiores obstáculos da aviação pessoal: a infraestrutura. "Eles não exigem aeroportos ou manuseio complexo — apenas uma superfície plana — e podem estacionar na maioria das garagens ou calçadas", destaca Plaut.

Ao combinar essa flexibilidade com a aplicação de princípios de fabricação de nível automotivo para controle de custos, a AIR não está apenas construindo uma aeronave; está tentando criar um mercado totalmente novo e acessível. O investimento de $23 milhões é mais do que apenas capital; é um voto de confiança em uma estratégia que pode, finalmente, colocar as chaves do céu nas mãos de pessoas comuns.

(Fonte original: TechCrunch)