
No mundo da tecnologia, poucas narrativas são tão cativantes quanto as de redenção e reviravolta. Travis Kalanick, o visionário e controverso fundador que foi afastado da Uber em 2017, parece estar escrevendo um novo capítulo ousado. Segundo o The New York Times, Kalanick está articulando com investidores a compra do braço americano da Pony AI, uma proeminente empresa chinesa de veículos autônomos. Mas o detalhe que transforma essa negociação em um roteiro de cinema é a possível participação da própria Uber na transação, a mesma empresa que ele ajudou a criar e da qual foi forçado a sair.
O Retorno a uma Paixão Antiga
Para entender a magnitude deste movimento, é preciso voltar no tempo. Sob a liderança de Kalanick, a Uber investia agressivamente em sua própria tecnologia de direção autônoma, vista por ele como o futuro inevitável do transporte. Ele acreditava que a empresa que dominasse essa tecnologia dominaria o mercado. Recentemente, Kalanick expressou publicamente seu desapontamento com a venda da divisão autônoma da Uber, afirmando: "Gostaria que tivéssemos um produto de compartilhamento de viagens autônomo agora. Isso seria ótimo.".
Essa aquisição não seria apenas um negócio, mas a chance de Kalanick retomar um sonho interrompido e provar que sua visão original estava correta. Desde que deixou a Uber, ele tem se dedicado à sua empresa de 'ghost kitchens', a CloudKitchens, onde a robótica já desempenha um papel crescente, mostrando que seu interesse em automação nunca diminuiu.
O Paradoxo da Uber: De Rival a Possível Aliada
A gestão de Dara Khosrowshahi, sucessor de Kalanick, mudou drasticamente o rumo da Uber. Após um trágico acidente fatal em 2018 envolvendo um de seus veículos de teste e uma intensa batalha legal sobre segredos comerciais com a Waymo (da Google), a Uber vendeu sua divisão de autônomos para a Aurora. A estratégia passou a ser de parcerias, integrando carros de empresas como a Waymo em sua plataforma, em vez de desenvolver a tecnologia internamente.
Agora, a possibilidade de a Uber ajudar a financiar ou facilitar a compra da Pony AI por Kalanick levanta questões fascinantes. Seria uma forma de a empresa ter acesso indireto a uma tecnologia de ponta sem os custos e riscos do desenvolvimento? Ou uma manobra estratégica para se posicionar em um mercado que ela mesma abandonou? A Pony AI, que já havia preparado seu código-fonte e operações nos EUA para uma cisão, representa um alvo maduro e estratégico.
Legado e Futuro da Mobilidade
Este movimento de Kalanick é mais do que uma simples aquisição; é uma declaração sobre o futuro da mobilidade. Se bem-sucedido, ele não apenas voltaria ao setor que ajudou a moldar, mas o faria de uma forma que poderia redefinir seu legado e, ironicamente, recolocar a Uber no centro do jogo da autonomia veicular.
(Fonte original: TechCrunch)